CANJA DE GALINHA*
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CANJA DE GALINHA
Texto por Paulo Rebelo
Um grande amigo meu, a quem sou eternamente grato, recentemente, mandou-me o link abaixo.
Carta aos Brasileiros https://peticaopublica.com.br/?pi=BR126074
Anti-bolsonarista e lulista de fazer defesa entusiasmada de sua posição política, ele contava que eu assinasse tal documento, algo que não o fiz por questão de coerência. Pela primeira vez, deixei a amizade de décadas de lado.
A carta tem uma linguagem grandiosa, porém empolada, demagógica e modorrenta, repleta de clichês e palavras de ordens démodé, muito característico do “socialmodismo”.
Qualquer pessoa normal poderia assiná-la, todavia seria como chover no molhado, pois não vivemos ameaçados pelo totalitarismo. Quem poderia ser contra a democracia e suas conquistas? A maioria a subescreve, porque se não fizer bem, mal não faz; é canja de galinha.
Ocorre que assisti atônito e incrédulo, ao mesmo tempo com indiferença e certa resignação, a leitura das cartas e manifestos “em defesa da democracia”, reverberada à exaustão pela GLOBO, alertando, denunciando e repudiando o que, segundo seus signatários (personalidades das áreas econômica e financeira do país, lideranças políticas, de movimentos negros e de “povos originários”, sem teto e sem terra, expoentes da cultura e das artes, acadêmicos, intelectuais, centrais sindicais, ONGS, UNE e etc.), dando ar pluralidade; o pretenso ethos nacional, todos protagonistas de um “momento histórico”, o que seriam supostas ameaças ou ataques à democracia e ao Rule of Law, num país que há três décadas apresenta maturidade e estabilidade democrática, ainda que injusto em muitos aspectos, todavia sem que assinalem claramente onde, quando e quem as perpetram e sim, curiosa e pateticamente, de soslaio, tão somente através de indiretas ao mandatário da nação e seus eleitores, tratados com desprezo por “gado” e “bolsominions”, beirando essas manifestações beligerantes, como recadinhos malcriados de constrangedora puerilidade, senão facciosa intelectualidade, repleta de bravatas e palavras de ordem, esses sim, incivilizados, verdadeiramente, antidemocratas.
A maioria de nós é republicana e democrática em meio ao capitalismo e não, socialista. O globalismo teria vindo para trazer igualdade e justiça social.
O cidadão comum perfaz 90% da sociedade. A maioria é conservadora ou seja, de direita e centro-direita, já uma parte crê-se ungida pelo ZEITGEIST como “humanista”, o menestrel do mundo com igualdade e justiça social. É essa gente, supostamente, dotada de superioridade ética, moral e intelectual, que deseja pautar minha vida. É essa gente que assina essas cartas e manifestos, eivados de boa vontade, mas contradições e hipocrisia. O fato de agirmos e pensar diferente do “progressista” é visto por ele como um “ser reacionário”, sendo achincalhado, como alheio e indiferente (e coisas piores) às questões sociais e problemas mundiais; um antidemocrata.
Os proponentes dessas cartas e manifestos falam como se tivessem procuração em nome do povo, dotados de inteligência superior e sensibilidade humana excepcionais, capazes de antecipar e interpretar a natureza dos acontecimentos sob seu pretenso olhar socialista.
As elites brasileiras estão ali bem representadas; querem a mudança, mas à sua maneira. Fingem ser representantes do HOLOI POLOI. É assim desde a Revolução Francesa; derruba-se um poder para substituir por outro. É uma crassa inverdade, que representariam todos segmentos da sociedade; buscam manter o status quo representando um poder e seguramente, não é do povo. Lá foi dito, que aquele momento histórico abraçando todas as matizes ideológicas, seria “a união do capital e trabalho”- “Mas, quando?”, diria o mais lídimo caboclo pararense.
Isso me lembra a época de 2002, quando LULA, depois de perder as eleições de 1994 e 1998, publicou a Carta ao Povo Brasileiro, leia-se as elites econômicas e financeiras nacionais e internacionais, que não lhes azucrinaria, mantendo o Plano Real (correto), honrando contratos firmados pelas leis de capital. Deu no que deu. E então, assim foi eleito e saiu do poder depous de 8 anos com 80% de aprovação popular, mas pôs a DILMA como títere e continuou a mandar e desmandar no país, à base do Petrolão, Mensalão, Lei Rouanet, dólares na cueca, elevados patrocínios/propaganda públicos na Globo, Folha de São Paulo, lucros exorbitantes do sistema bancário e financeiro, enriquecimento de empreiteiras, empresas- modelo, ditas “campeãs de produtividade” com a JBS, Marisa, as empresas “X” do megalomaníaco Eike Batista, artistas, todos oportunistas e inescrupulosos, aliciados e silenciados por dinheiro público, lamentavelmente, tornado sujo: o suado dinheiro da nação brasileira.
Essas cartas e manifestos são apenas curioso “bibelot político”, mas altamente perigosos. O que desejam? É o retorno de Lula ao poder; a verdadeira ameaça à democracia.
Têm preceitos de liberdade, legitimidade, legalidade, afinal vivemos numa sólida democracia, mas não têm moralidade.
Assim, que assinem a minha carta para começarmos a conversar honestamente sobre democracia, igualdade e justiça social.
Paulo Rebelo, médico.
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