TRAUMATIZADA RACIAL*

Ao defender a Família Real Portuguesa, recebi ataques gratuitos na Internet. Eis parte de uma dessas pessoas vitimistas:

“…desonras a imagem que usas no teu perfil. Quer dizer que eu, descendente de povos originários e de africanos escravizados, devo agradecer a quem massacrou minhas famílias, a quem roubou e se locupletou com o que espoliou de meu país? Devo agradecer a quem massacrou meu povo, estuprou minhas ancestrais?Tua viralatice beira a síndrome de Estocolmo”.

Ao que lhe respondi:

“Fulana de tal, eu tive que ler 2x para entender a tua indignação desmedida, pior, eivada de caráter pessoal. Vou desconsiderar tua groseira. A tua narrativa é curiosa, própria de alguém limitada a um círculo intelectual vicioso e beligerante. Assustador. Uma experiência: não conquistarás nenhum adepto à tua causa. Meu comentário não foi ofensivo; foi uma resposta aos inúmeros comentários desairosos, como o teu repleto de ironia ressentimentos e deboche em relação ao morto.Aí tu invocas traumas atávicos por conta da escravidão de teus antepassados e contemporâneos e então, destilas o teu rancor para cima de alguém, que tu julgas desonrar o indígena. Atendo muitas pessoas por dia há décadas. Sou médico com belo serviço à comunidade onde vivo. Sou caboclo amazônida, mestiço de origem indígena e anglo-saxã (meu nome do meio é europeu), ex-pobre, ex-morador de vila de casas geminadas. A despeito de enormes dificuldades, venci na vida e não carrego traumas. A minha educação, todavia, é eurocentrica como a de 99% dos brasileiros; a maneira de se vestir, cumprimentar, porta-se, comportar-se, sentar-se na sala para receber amigos e convidados, sentar-se à mesa e comer educadamente com talheres, isso é obra de um inegável processo civilizatório, cuja humanismo ocidental foi consubstanciado por profundo saber filosófico, que não é indígena, africano nem asiatico, e que derrubou monarquias para sempre, limitou o papel da Igreja Católica, colocando o homem como o centro de nossas preocupações, criou grandes revoluções como a francesa, a socialista, industrial, base do mundo moderno, todavia essa mesma civilização sepultou DEUS, lamentavelmente, fez as Grandes Guerras Mundiais, a Bomba Atômica, o capitalismo selvagem e a poluição. Assim, todos nós somos felizardos e vítimas desses tempos; índios e negros não são diferentes; que digam os 6 milhões de judeus mortos no holocausto e 94 milhões de civis mortos nas mãos de regimes comunistas.

Assim, dito isso, espero ter colocado um ponto final nessa desagradável discussão infrutífera de tua parte. E não responda, por favor; não há nada que possas acrescentar para enriquecer uma conversa saudável, infelizmente”.

Paulo Rebelo

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