A ARROGÂNCIA & IGNORÂNCIA (Em tempos de mídias sociais)*

ARTIGO de OPINIÃO-III

A REDEFINIÇÃO DO CAPITALISMO E SOCIALISMO ou A ARROGÂNCIA & IGNORÂNCIA
(Em tempos de mídias sociais)

Por Paulo Rebelo

A cultura do cancelamento é reflexo da impaciência e intolerância do mundo atual, que tem pressa. Denota, também, pretensa superioridade intelectual e moral daquele que “cancela”.

Em geral, observando o povo, além da incredulidade e desesperança deste, em tempos de COVID-19, uma das coisas que mais chama atenção é a incivilidade de boa parte e, paradoxalmente, incultura, ainda que em tempos de abertura democrática, amplo acesso ao conhecimento e liberdade de expressão. A briga maior ocorre no campo da opinião política entre a direita e a esquerda, sobre qual o rumo que o mundo deva tomar. Nessa hora, sem educação e civilidade, a ignorância e grosseria correm soltas.

Antes de discorrer propriamente sobre o assunto a seguir, gostaria dizer que o texto em epígrafe é uma crítica ao confuso momento pelo qual atravessa o mundo polarizado. São breves reflexões sobre as complexas relações humanas em vigor, em particular, entre as classes sociais, complicadas em tempos de globalismo, quando em busca de justiça social, erroneamente, o povo indistintamente, advoga direitos fundamentais para si, em detrimento de deveres essenciais.

O assunto a abordar é sobre a arrogância e ignorância generalizadas da população, não poupando ninguém. Ambas surgiram mais intensamente nos últimos vinte anos, na esteira da democracia mal interpretada, polarizada pela direita e esquerda, igualmente, intolerantes, eis que o mundo se tornou menor, todavia, perniciosamente intimista, intruso e sem decoro, pois segundo seus críticos, era necessário estabelecer um novo padrão de comportamento mundial, contrapondo-se ao mundo conservador e repressor.

Até meados do fim do século XX, as características das classes sociais estavam bem definidas. Além da questão econômica que as separava, havia clara arrogância das classes superiores, com alheamento e indiferença destas e a ignorância das classes inferiores, em decorrência de suas crônicas carências de toda sorte. Andavam lado a lado, convivendo no mesmo espaço urbano, repleto de injustiças sociais, mas distantes uma da outra.

Agora, em tempos de mídias sociais, as classes sociais estão mais imbricadas até quanto ao modo de agir e se comportar, já não sendo possível distinguir quem é quem, onde começa uma e termina a outra. Ricos e pobres, se não forem notados pelos bens materiais, parecem semelhantes em quase tudo, até na má educação.

As classes superiores estagnaram mundo afora e, visivelmente, mais ainda em tempos da pandemia da COVID-19, estão empobrecidas economicamente, com prejuízos éticos, morais, na sua educação formal e intelectualidade. É notória a queda generalizada do padrão de qualidade de vida geral, até das “elites”, que em busca de mais aceitação global, tornaram-se mais “populares”, meio a contra gosto, mas por necessidade, aproximando-se das classes inferiores. Houve um achatamento dos costumes, nivelando todos por baixo. As “elites”, sempre oportunistas, se transmutaram como curadoras do mundo, a onipresente “burguesia socialista” com sua ladainha esquerdista.

Ocorre que as classes superiores não gostariam mais de ser vistas como “elites”, nem as classes inferiores sentirem-se humilhadas. Seria anacrônico nos dias atuais. Assim, resolveram se unir contra as “elites” e contra o capitalismo do qual se beneficiam bem ou mal, enfraquecendo a própria democracia e seus fundamentos.

Para isso, as classes inferiores, outrora, marginalizadas do progresso da humanidade, no século XXI, na difícil luta solitária por igualdade e justiça sociais, ganharam espaço para externar suas necessidades e dificuldades, demandando direitos, através dos múltiplos veículos de comunicação, todavia essa “nova classe média”, forjada pela esquerda nacional, só foi possível pela lenta e progressiva mudança de paradigmas sociais, quanto aos modernos conceitos de igualdade e diversidade étnica, racial e cultural, levada a cabo pelas elites acadêmicas e intelectuais, de vertente ideológica socialista.

Sendo revisionistas históricos, na onda do politicamente correto, passaram a questionar a própria sociedade mundialmente ocidentalizada, que ajudaram a erguer, expondo suas enormes contradições, criticando duramente a chamada “supremacia branca” e o “racismo estrutural”, desejando refundá-lá, com isso ganhando status moral na vanguarda de pretensa salvadora do mundo.

Assim, ao contrário do que possa parecer, mesmo com mais democracia, as classes C, D e E não enriqueceram; foram as classes superiores que cairam de nível. Proselitistas, muitas de suas ações são demagógicas.

Ao final, à base do corpo a corpo virtual, as relações humanas se tornaram frágeis, intensamente superficiais e descartaveis e os conflitos não são resolvidos civilizadamente, mas aos gritos. O BBB, reality show, é o maior exemplo disso.

Atualmente, há uma tendência ao escracho e esculacho para desconstruir o proximo e prevalecer o pensamento único impositivo.

O pedantismo e pretensa superioridade moral e intelectual dessa gente vêm cheios de ameaças, bravatas, ironias e cancelamentos, demonstrando a sua força destruidora, em nome de uma nova onda social mundial, redefinindo o capitalismo e socialismo no século XXI.

Paulo Rebelo, o intérprete dos tempos.

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