O NEGRO ATORMENTADO*

O NEGRO ATORMENTADO

Andam falando tanto por aí,

Que a sociedade brasileira é racista

De pai e mãe,

Que até eu,

Pretinho sem maiores traumas

De nascença e criação,

Outrora alegre e faceiro,

Tornei-me triste e reflexivo,

Chamado de alheio,

indiferente

E maldito.

Passei a ter pesadelos diários,

Onde neles,

Ora sou escravo bajulador do branco

Ora sou escravo fugitivo da senzala,

Ora sou algoz senhor de engenho

Ora um desalentado negro alforriado,

Carregado de dor atávica,

Agora preso à solidão

De minha infância perdida.

Paulo Rebelo

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