O BEM E O MAL*

Inspirado na obra de Gabriel García Márquez.

A minha consciência

Vive me dizendo

Para continuar

Desafiando o meu destino,

Que antevê como será;

A continuar assim,

Segundo ela,

Uma vida solitária,

Monótona e insípida

Como se isso

Fosse um desperdício

De minha existência.

Assim, é por isso que,

Inevitavelmente,

Quando ouso,

Sou tentado a pecar

Tornando-me um contumaz

Transgressor dos bons costumes,

Uma criança

Brincando com o fogo,

Um renegado,

Próximo de um animal

Irracional,

Incurável perpetrador

De pecados,

A maioria venais,

Socialmente, aceitos

Com veladas condenações

E nenhuma punição,

Todavia não passo incólume;

Eis que me encontro livre,

Porém com certo sentimento de culpa,

Pois sou um vívido

Contraste que me lembra

Com algum prazer mórbido

A qual desses mundos pertenço

E, cheguei à conclusão,

Que pertenço aos dois

Que coabitam silenciosamente

Dentro de mim,

Lado a lado,

Versos de mesma moeda

Como irmãs siamesas,

Poderosas forças ocultas;

O bem e o mal.

E quando os vejo tentar

Se distanciar

Aos poucos um do outro,

Suspiro com a dor

De uma inefável saudade,

Essa enorme contradição,

Que é pura ambiguidade

Em mim,

Estranhamente,

Como um barco

Que se afasta para distante,

Todavia sem jamais sair desse mar.

Paulo Rebelo, o médico poeta.

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