A DESPEDIDA*

Adeus!(Para mim)

A viagem acabou.

Último ponto,

Era a parada final

Da estação.

Há um misto

De fim

E novo começo

Estranha sensação

De saudade

E resignação,

Minha futura morada,

Um novo endereço.

Quando vim ao mundo,

Desde a viagem inaugural,

Parecia tão teatral.

Não era ilusão;

Foi real.

A vida inteira foi assim:

Inesperado,

Sem tréguas,

Sem regras,

A caminhar

Mil léguas.

O mundo do avesso,

Invertido,

De ponta-cabeça,

Mal compreendido,

Com sinais trocados

E, eu, surpreendido,

Desencontrado,

Muitas vezes,

Solitário, às vezes,

Completamente perdido.

E, quantas vezes,

Peguei atalhos.

Pois, lá do alto,

Ventava muito,

O andaime balançava,

E eu, desequilibrado.

Tive medo de morrer,

Assustado.

Finalmente,

Há de terminar

A angústia

A sofreguidão

As horas perdidas

As dores sentidas

A espera doída.

Na caminhada,

Criou-me expectativas,

Desilusões.Tive frustrações,

Dissabores

E decepções,

Mas a vida deu-me

Um saldo de sonhos,

Esperanças,Alegrias

E ilusões.

Ofereceu-me

O céu e o inferno,

Mais do que podia

Ter ou viver um dia,

Inclusive, devaneios,

A cura de feridas.

Aprendi a viver

Aos solavancos e empurrões,

Ladeira a baixo

Aos trancos e barrancos,

Chacoalhões.

Se o caminho

Não tinha volta,

Todavia teve um fim,

No final do beco,

A saída, Enfim.

O caos tinha norma,

O escuro tinha forma,

O labirinto uma porta

De emergência,

Do fundo do poço,

A amarga experiência.

São vivências.

Então, Ao final de tudo,

Tive uma montanha russa

De emoções,

Andei na corda bamba,

Montei num touro

Como num rodeio,

Vida cheia de aventuras,

Meneios,

Deslumbramento,

Com denodo,

E sem receios.

Locupletei-me de tanta vida.

Vivi tudo que ela possuia;

Realidade e ficção.

Assim, aqui me despeço de ti,

Nós que estivemos juntos Nessa breve e intensa jornada

É hora de descer

Do trem.

Essa é minha parada,

Adeus!

Da viagem,

Trago na bagagem,

Nada de mágoa ou rancor.

No peito,

A sabedoria, como professor,

No coração,A paz, doce frescor.

Acima, no céu,

Como estrela guia, Eternamente, o amor.

Paulo Rebelo, o médico poeta.

P.S. O poema foi inspirado numa conversa que tive com um homem aos 80 anos, portador de uma doença cardíaca terminal e sereno, se despedia saudoso de amigos e familiares, testemunhando estar realizado como ser humano.

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