ACAREAÇÃO*

ACAREAÇÃO
Crônica de Paulo Rebelo

Uma das situações mais pitorescas vividas na prática médica é a presença da acompanhante do paciente na consulta, geralmente, provocada, pela sua mulher que costuma falar tudo o que está ocorrendo com o companheiro, ao contrário do homem que, com frequência, deixa de informar coisas importantes para a compreensão de seu caso.

Faz parte do anedotário médico que a sua mulher está ali para “entregar o cara”. Ela é uma pessoa muito importante para o sucesso do tratamento, também, só faltando dar o medicamento na boca do sujeito. Mas, às vezes, o homem ao ser “encurralado”, a consulta fica mais para uma “acareação na delegacia de costumes”, pois o homem passa a dar o troco na mulher, acusando-a de seus erros; o médico torna-se alí o “delegado de polícia!” Mas, de um modo geral, o balanço é positivo.

Brinco dizendo que o “suspeito” é o homem e não, a mulher.

Eu tive um paciente na casa dos sessenta anos que, segundo ele(eu já não lembrava), eu o havia tratado de um grave problema de coração e que dizia estar muito bem com os medicamentos que lhe havia passado há muitos anos e ele estava alí na consulta para me agradecer e me fazer um pedido inusitado que esperava que eu o atendesse.

Dizia que durante sua vida, havia feito “tudo o que o diabo gosta”, mas que estava “regenerado”. Sua esposa torceu o bico.

“Doutor”, disse ele: “minha netinha, a Ana Carolina, vai fazer 15 anos, agora no dia primeiro, então, eu gostaria que o senhor me liberasse para tomar APENAS uma “tacinha” de champanhe”.
A mulher franziu a testa e fulminou: “Ele não é confiável, não, doutor!”

Até três latas de cerveja, um taça de vinho, uma dose de uísque ou cachaça, teoricamente, se bem medicado e sem cometer excessos, inclusive, na alimentação, o indivíduo pode fazer uso da bebida alcoólica.

“O senhor pode aproveitar o seu momento de alegria e felicidade ao lado da família, desde que não se exceda”, disse eu. Assim ficou acordado.

Alguns meses se passaram quando volta o casal. Logo lembrei-me dele. Ele estava com palpitações e pressão alta descontrolada de novo. Ele, macambúzio, ela, com a língua coçando.

“O que houve, seu Adalberto? E o aniversário da neta?” Perguntei-lhe. E, antes mesmo que o pobre homem respondesse, a mulher logo disse:

“Vixe, doutor, de lá para cá, sabe quando o senhor liberou ele para beber só aquela “tacinha de champanhe” nos 15 anos da nossa netinha?

Pois é, doutor, acontece que ele bebeu TODAS e outras!”

🤣🤣🤣

Paulo Rebelo, o médico poeta.

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