O PARADOXO*

O PARADOXO
(Texto de Paulo Rebelo)

 

O homem nasce livre,
mas, logo em seguida é preso a um destino
que somente DEUS sabe qual.
É largado à própria sorte
ou preso à incubadora,
tomando antibióticos.

Diz-se que uma nova alma
será sempre bem acolhida.
Uma inverdade!
Nem sempre.
Como? Se muitos são abandonadas no lixo… abortadas.
Uma boca a menos, dizem.
Outras acabam no orfanato ou nas ruas.
Dura e fatídica realidade.

Lá está ele pedinte, vendendo balas no semáforo ou com malabares.
Dormindo ao relento,
sob frio e chuva,
debaixo dos viadutos.
Livre, mas não liberto da triste condição humana;
esse é o grande paradoxo,
como se o mundo apenas pertencesse a alguns
e o excedente naturalmente marginalizado.
Se tiver sorte, será um homem de bem.

Uns se apiedam dele
outros o ignoram.
Nas igrejas e templos, expiam seus pecados.
É conveniente que peçam a Deus pelo menor.
Nada mais do que esmola espiritual.

Diz-se que será feliz,
mas não lhe estendem a mão,
não lhe mostram o caminho
e lhe fecham as portas,
que pode ser por conta da cor, da etnia,
da religião, do sexo ou classe social,
todavia pode ser simplesmente por egoísmo ou pura maldade humana e por conta de sua natureza animal.

Mal sabem eles que sua própria sina num futuro qualquer
pode ser a invalidez, a morte e o abandono,
tal qual daquele menino que ignoram nas praças.
Assim, talvez, por isso tanto temam a imagem do garoto
como sendo a sua própria, por algum infortúnio,
uma vez no isolamento de asilos e hospitais,
negligenciados pelos seus familiares.
Esse é o grande mistério da vida de cada um:
o dia de amanhã.

E se lhes perguntarem o porquê de tamanha rejeição,
nem eles saberão dizer exatamente a razão,
exceto o medo inconfesso de perder o seu quinhão.

Assim, ele busca um caminho melhor do que o da dor.
E na sua caminhada solitária e fatigante,
bendito seja o dia em que ele encontre a paz e por Deus,
que não seja na morte breve e aliviadora,
quando todos os seus pecados e fardos assim cessam,
quando os últimos estertores era o que mais ele desejava,
para depositar a sua cruz na terra
e sim, finalmente, após uma vida fecunda e profícua, superadas as grandes tribulações, no crepúsculo, sentado na cadeira de balanço,
do alpendre de sua casa no campo ele vislumbre a sua viçosa plantação
e diga sem rancor:

“apesar de tudo, venci!”

Paulo Rebelo, o médico poeta.

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