UM MUNDO CRUEL*

UM MUNDO CRUEL

Por Paulo Rebelo

Ando com bronca 

Do mundo.

Não é qualquer mundo.

Falo do mundo do avesso, 

Que está de ponta cabeça, 

Aquele da imagem em espelho.

Falo desse mundo

Violento,

Do faz-de-conta,

De ilusões,

O que me assusta,

Que me causa insônia,

Vertigens

E indigestão.

Um mundo

Que não entendo,

Que me faz parecer 

Ingênuo e ignorante,

Qualquer que seja 

O ângulo de visão,

O ponto de vista, 

O tradutor on-line, 

O telescópio Humboldt 

Ou o microscópio eletrônico, 

Quando tudo parece 

Desfocado e surreal. 

Faço forças para 

Não cair da corda bamba.

Sinto-me tomado 

Pelo espanto,

Incredulidade, 

Intolerância,

Bestialidade 

E pela minha 

Desonestidade

Intelectual

Ao buscar em vão,

Do mundo,

Uma explicação,

Quiçá solução!

Após me digladiar 

Com ele,

Desisto.

Abúlico,

Sou vencido pelo cansaço.

Abro uma garrafa 

De vinho tinto.

Escuto algumas canções 

Preferidas da MPB.

Lá pelas tantas, 

A esmo,

Falo baixinho 

A mim mesmo: 

“Oh, Mundo Cruel!”

Assim, adormecendo Enebriado e por fim, alegre, 

Liberado o meu inconsciente,

Eu ainda o escuto dizer 

À distancia:

“Calma, relaxa; que se dane!”

(Não vou mesmo entender o mundo).

Paulo Rebelo, o médico poeta.

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